Contos Sombrios

    Me desculpe Selena, mas eu não consigo suportar a dor dessa solidão. A noite é terrível demais, fico feliz de não estar aqui pra testemunhar.
    Eu entendo agora, Selena, todo seu ódio por mim é justificável, eu entendo, neste exato momento minha alma morta se remexe para estar ao seu lado, mas eu sei que nossas almas não irão para o mesmo lugar, eu não mereço, não depois do que eu me tornei. Você tinha toda a razão, eu merecia morrer, eu devia ter te seguido, mas o sangue, a besta, foi tudo forte demais, foi tudo sedutor demais. No meu luto eu não pude chorar  por você Selena, um assassino não deve chorar o sangue de suas vítimas, um monstro não tem o direito de chorar, um monstro toma o sangue de sua vítima até a última gota. Por todos os juramentos sagrados que fizemos, meu dever era protegê-la, mas na falha da minha promessa eu me tornei algo muito pior do que todos os inimigos que enfrentamos juntos, nada na diplomacia do seu mundo poderia ser tão cruel quanto eu sou Selena, nada seria tão perigoso quanto ter um monstro impiedoso em sua intimidade, em sua cama, em seu puro coração. No começo eu me enlouqueci, eu entrei em transe, eu lutei contra essa fera, eu juro que lutei minha amada Selena, eu não queria ter de matar ninguém, mas suas veias saltavam aos meus olhos, eu sentia o sangue pulsar e correr, eu não pude evitar.
    Você parecia tão serena, um olhar tão calmo pairava sobre seu lindo rosto, a pele estava gelada, a vida já estava te deixando, e eu não sentia uma gota de remorso. Seus olhos calmos se transmutaram num misto de ódio e ferocidade, uma força desconhecida, uma vitalidade que eu já não entendo mais,  suas últimas e fortes palavras me amaldiçoaram a viver a vida ao sabor de uma amarga e fria solidão. Acredite em mim Selena, a solidão é uma força aterradora. 
    Depois de alguns séculos, a minha presença já não fazia mais diferença, a besta já dormia em um escuro calabouço que os anos me ajudaram a criar, e eu nunca estive tão imerso na solidão das sombras que esse mundo constrói. Pobres pessoas que não sabem de todo o horror que os cerca. 


-conto inacabado que não pretendo terminar-

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Washington da Silva Pacheco. Tecnologia do Blogger.