Contos Sombrios

      ... Entenda que não é nada pessoal, apenas prefiro passar os últimos momentos de minha eternidade na presença de algo vivo. Se você não se importar de ouvir minha história antes do nascer do sol seria de bom grado querida.
  Acredito que tudo começou a desmoronar quando eu a conheci. Anna era seu nome ou pelo menos como dizia se chamar, nos conhecemos no verão de 1810 em Veneza.Sua beleza envolvente logo me fez fatalmente apaixonado por ela, essa paixão foi o que me trouxe a esse momento.
  A primeira vez que a vi foi durante uma noite em um beco escuro da cidade, ela tinha sangue em suas vestes e um olhar apavorado, logo que percebi corri em sua direção e perguntei se estava bem, o que tinha acontecido com ela.
_Não tem medo que a escuridão lhe tome sua liberdade jovem rapaz? Apesar de assustado  com essas palavras não conseguia parar de olhar para os olhos de Anna.
_Diga algo garoto, não sabe como agir na presença de uma dama?
_Peço que perdoe minha falta de modos senhorita, mais a situação em que se encontra me deixou confuso.
_Isso? Não se preocupe já tive noites piores.
  Eu não sabia como agir, já havia tido com outras mulheres mais nunca me senti tão envolvido como eu me senti naquele beco escuro com aquela misteriosa jovem.
_Seria justo que me levasse a uma hospedaria, não acha que o dever de um cavalheiro é acompanhar uma dama e ajudá-la quando necessita?
_Concordo, Poderia me dizer o seu nome jovem senhorita?
_Anna!
  Em toda minha existência esse foi momento jamais me saiu da memória, pois foi o acontecimento que mudou tudo para mim. Acompanhei Anna até uma hospedaria sem conseguir tirar meus olhos por um segundo dela. Ela insistia que era perigoso para mim saber o que havia acontecido com ela, mais quanto mais ela se negava a contar mais intrigado eu ficava, todos os meus instintos me diziam para desvendar os mistérios daquela jovem.Me despedi da misteriosa senhorita e segui meu caminho.
 Apesar de não conseguir tirar Anna da cabeça e de ainda estar intrigado com as palavras que ela me disse, segui normalmente minha vida pelos dias seguintes. Algumas semanas depois de conhecer Anna, veio à taverna onde eu trabalhava um homem de aparência pálida, vestia uma capa e um chapéu extravagante que o faziam ser notado.
_Estou a procura de uma jovem de cabelos negros e cacheados, olhar envolvente e boa lábia, será que algum de vocês ratos pode me ajudar?Ele disse mais nenhum dos bêbados e moribundos da taverna soube responder. Eu não podia simplesmente dizer que sabia onde estava a jovem que ele procurava, não antes de descobrir quem ela era. Então naquela noite eu segui o homem de capa até que ele se encontrou com outros dois homens estranhos, um deles parecia um sacerdote ou um padre, o outro era alto truculento parecia um troglodita, e todos tinham a mesma insígnia em suas roupas. Fiquei escondido e ouvi o que diziam.
_Samuel não podemos perder o rastro dela novamente! Dizia o sacerdote ao homem que vi na taverna.
_Não se preocupe senhor esse monstro não fugirá de nós novamente.
 Aquelas palavras arrepiaram – me, como podiam dizer que aquela jovem era um monstro? Me perguntei se ela seria uma herege ou talvez uma promiscua, mais depois comecei a pensar nas palavras dela e como ela havia se referido a escuridão, isso me deixou mais intrigado do que eu estava.
Nos dias seguintes correram boatos na cidade de pessoas que tiveram seu sangue sugado até a morte. Isso incendiou minha curiosidade e me fez tomar uma decisão , eu iria atrás de Anna e descobriria quem ela realmente era.
        Esse foi o meu maior erro...
O dia ainda estava claro, porém o crepúsculo se aproximava quando fui até a hospedaria onde havia deixado Anna.O dono da pousada me disse que ela se trancava no quarto durante o dia e só saia de lá depois que o sol se punha e retornava ao amanhecer.
Sai então pela cidade, naquele dia resolvi não aparecer na taverna até porque já havia me cansado daqueles bêbados imundos que sempre estavam por lá, tomei uma gôndola e fui ate o beco escuro onde encontrei com Anna pela primeira vez, uma mulher esperava por alguém mas não era Anna, era bem jovem estava aflita ,roia as unhas.Me aproximei, perguntei se conhecia quem eu procurava.
 _Ela te mandou? Você irá me sugar hoje? Por favor faça logo eu não agüento mais esperar.
 Essas palavras me assustaram, Anna era quem sugava as pessoas da cidade?Ela era o assassino de quem todos falavam.
_Se está pensando que eu sou a pessoa dos boatos jovem rapaz, saiba que está enganado, mas lhe digo há mais coisas nas sombras deste mundo do que você possa contar.
Era Anna, ela estava diferente seu rosto estava pálido, pele tão branca que era possível ver os o sangue correndo em suas veias, Seu olhar envolvente era agora substituído por um olhar de agonia, ela parecia se segurar, era como um predador se segurando para atacar na hora certa, naquele momento senti que minha vida não significava nada perante Anna.
Em questão de segundo Anna foi das minhas costas ao pescoço da garota e cravou seus dentes na jugular e começou a beber o seu sangue, a menina parecia sentir um grande êxtase com a mordida em seu pescoço.Tudo fez sentido para mim, aqueles homens estranhos que procuravam  Anna na taverna eram caçadores e ela era um vampiro, o monstro das lendas realmente existia.
Anna terminou sua “refeição” e então sua pele voltou ao que era, seu olhar apaixonante e ardente voltou a sua forma, mas alguma coisa estava errada a vampira parecia se segurar muito para não sugar mais sangue da garota, sua expressão era de dor.Anna se voltou para mim e começou a falar.
_Garoto eu vou lhe dar duas opções, eu posso apagar sua memória aqui mesmo e você não se lembrará do que viu, ou você pode morrer.Escolha!
Eu não podia esquecer aquela mulher, não eu sabia que ainda viveria muitas coisas ao lado de Anna, eu estava completamente apaixonado por um ser sobrenatural.
_Me torne uma de você! Me torne um vampiro...
Acordei em um lugar escuro e apertado, porém de certa forma confortável, aos poucos fui descobrindo onde estava até que chegou a conclusão: era um caixão.Após pedia a Anna que me tornasse um vampiro eu acordei em um caixão, não sabia onde estava, não conseguia me lembrar de absolutamente nada do que acontecera depois de ter encontrado a vampira, mas tudo indicava que eu havia me tornado um deles.Felicidade ,ódio,misturados a vários outros sentimentos tomaram conta de mim, meu coração estava parado, mais eu continuava vivo, eu estava morto, tecnicamente morto.
Bom eu tinha que sair daquele caixão e descobrir o mundo novo que se abria a minha frente.Eu simplesmente empurrei a tampa de madeira e ela se quebrou e a caixa de madeira se preencheu com a terra, mais não era muita terra eu havia sido enterrado em uma cova rasa, eu apenas saltei e já estava fora do caixão,por sorte era noite.Tudo estava diferente, as cores mas fortes, os sons mais aguçados, eu podia sentir o quanto tudo em mim estava aguçado, ser um vampiro era tudo que eu sempre sonhei ,mas logo descobriria os contras dessa transformação.
Em poucos instantes tudo que parecia tão belo perdeu a cor, todo bem que eu sentia foi substituído por raiva e a fome, a fome, essa é uma peculiaridade da transformação em vampiro, nos primeiros instantes após o despertar uma fome enorme toma conta de todo o seu ser e a besta presente em todos os vampiros se mostra.
Depois que fome começou a tomar conta de mim eu apaguei e acordei em minha casa,  no chão estavam, minha mãe,pai , e irmãos, todos mortos e com buracos de presas no pescoço, eu estava coberto de sangue e minha fome tinha desaparecido, tudo voltou a parecer belo meus sentidos intensificados.Eu não sentia remorso algum por ter matado meus familiares, pra mim eles pareciam apenas refeição, humanos eram apenas o meu rebanho. Eu havia me desligado de minha humanidade e me transformado num monstro sugador de sangue.
Ainda tinham alguma horas de escuridão e eu já havia preparado o porão de minha casa para me esconder quando chegasse o nascer do sol, as lendas diziam que vampiros queimam no sol e Anna se escondia dele então eu também deveria evitá-lo.
Sumir com os corpos de minha família foi extremamente fácil, apenas os levei para o cemitério da cidade e os enterrei quando não havia mais ninguém nas ruas.Agora era hora de encontrar aquela que me deu essa nova vida ,Anna.
Fui novamente a hospedaria e perguntei por Anna, o dono do local disse que não via a garota desde a noite anterior, agradeci ao velho senhor e tornei a perambular pela cidade.Tudo era tão diferente eu sentia uma liberdade que jamais sentira antes, pensava que podia fazer qualquer coisa.
Aos poucos comecei a pensar que Anna não estava mais na cidade, eu temia muito isso afinal eu era um vampiro recém criado e precisava de alguém para me guiar, alguém para ser meu senhor, sem falar que meu amor por Anna não desaparecera junto com minha humanidade então eu precisava encontrá-la.Andei pelas ruas da cidade por algumas horas, então ouvi um grito, parecia distante mas ainda assim eu podia ouvir claramente.
_Calado! Irei sugá-lo até a ultima gota do seu sangue, mero mortal.
Eu podia ouvir com clareza o que estavam conversando, já sabia que não era Anna, pois era uma voz masculina que disse essas palavras.Corri para lá e em poucos instantes eu estava diante de um homem que cravava suas presas no pescoço de um jovem rapaz.
_Você quer me acompanhar nessa bebida ou vai ficar apenas olhando novato?
...
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Washington da Silva Pacheco. Tecnologia do Blogger.